Translate

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mendigo



Enfim, detestável memoria dilacerada ao acaso, como uma fagulha incendiada uma vespa engole meu peito, vejo cada linha no horizonte emancipar-me os olhos que sangram pela metade e da outra metade quase cega pus e bigatos.
Devolvo cada fio de cabelo a terra que me come, meus dentes corroídos autoflagelam minha carne que derrete dentro do sol, qualquer lugar que a lua coube um dia, já não é mais lugar, então nos faço criminosos onde a honradez somente exaspera-me.
Levo comigo daqui, demasiados goles de espinhos e gotas de minhas secreções nasais, rio invisível com lamentos distintos, distintivos enferrujados e insignias magoadas, coloco-me em posição fetal e deflagro sinceros pensamentos acolhidos sobre a manjedoura, em meu crânio povos incandescentes e florescentes em luzes vazias se desesperam, nada mais me desperta, pois entre todos neste mundo fui eleito como capitão da desgraça e da morte.
Maligno enfim o dia em que voltei a terra em corpo de besta maculada, salvo pelos demônios que nunca souberam de minha existência, sim fizeram-me pai, filho, mulher e menino, comeram meu corpo e beberam meu sangue inúmeras vezes, pedi para ser banido daquele lugar, onde nada era quente, nada era frio, eu enfim um anjo domesticado, sangrando espirito.
Não ignoro o culto em que se cultuam as fantasias de todos os meus cadáveres multifacetados em espelhos etéreos o enternecimento para o crucificado na hora em que me masturbavam com o crucifixo em brasa, minhas únicas lembranças deste dia além da pele derretendo, foram as palavras de misericórdia que não me disseram, desfaleci em vida engoli o óbito para poder voltar a terra.
As asas, me roubaram, me jogaram la do alto...
Enfim fui Deus por um dia, matei e como matei, cada um de meus irmãos da forma mais dolorosa possível, eu vi todos sangrarem e apodrecerem em segundos frente aos meus olhos doentios, sim, roubei cada alma e guardeia-as dentro de mim, longe dos pássaros eu pude voar, sem asas eu pude, mas enfraquecido pelo teor de minhas desvalias cai de uma só vez.
Eu não valia nada, exatamente nada, talvez o nada tivesse mais valor que minha alma naqueles sinceros momentos de escuridão, nada e nada, pedi a minha querida que me trouxesse cálices de fogo e fragmentos dos meus eus despedaçados por ali, sabe, ai bem ao lado dos teus pés.
Calma, Pare!
Por favor, não pise nos meus olhos, meus sonhos sujos ainda estão ao nosso lado, do verbo maldito guardei a cura, para enfim, no fim de tudo dizer somente..


Nenhum comentário:

Postar um comentário